ACORDAR DEPOIS DO TEMPO



ACORDAR DEPOIS DO TEMPO

Há muitos dias e noites tenho pensado sobre uma questão que eu não consigo deglutir. E já faz dez anos no mínimo.  Chego a sentir a sensação de que me enganaram; de repente eu estava com sessenta anos. Foi como se ninguém tivesse me avisado em algum momento do tempo passado, mas eu não acho meio de melhor explicitar essa sensação. É que essa sensação é um enorme vulcão com a boca invertida a explodir por dentro ou para dentro, como forma de dilacerar seus neurônios pelas solicitações faiscantes da rede sinapsial, mesmo não facilitando a deglutição do tempo.
Os poetas têm contado e cantado a alegria e a solidão dessa visão descortinada nos dois terços da vida, a tinir em seus ouvidos como martelo em ferro sobre a bigorna, outras vezes promovendo um silvo violento destinado a penetrar o seu cérebro, a cobrar, mais uma vez e ainda, um esclarecimento sobre o tempo decorrido, perguntando-lhe, mais, por que não foi visto o tempo, como também pede explicações para o caso disto ocorrer com todos os seres pensantes. E se ocorre, como é que se explana essa realidade; qual é o mistério dentro do tempo? Tempo ou instante?

Parece difícil mesmo.

Será por isso que se alcunhou a sentença: “Na minha idade as horas demoram a passar e os anos voam”?

Eis uma sabedoria popular produzida no tempo.

A máxima "tempo é dinheiro" moveu e ainda move gerações. Quem nunca ouviu dizer: "Corra agora para descansar depois?". O problema é que o "depois" nunca chega. Temos de aprender a dar tempo ao trabalho, à família e ao lazer. Quer uma dica para aprender a usar melhor seu tempo? Experimente substituir a palavra "tempo" por "vida". Quando seu filho o chamar para brincar e você disser "Agora não tenho tempo!", diga "Agora não tenho vida!". Com certeza, você vai mudar de ideia. (PAULO ARAÚJO, http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/tempo-vida-580400.shtml)

O debate sobre o tempo não é de agora.

Viver é talvez dispensar os recomendados conta-gotas dos prudentes ou a posologia arbitrada pelos manuais de sobrevivência. É também se expor às intempéries e permitir-se transpor portais, para que percebamos a brisa que despe a liberdade do sonhar. ( Fernanda Guimarães, O Tempo e a Vida, http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1248956)
Mario Quintana:  O tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
MarioQuintana(http://pensador.uol.com.br/frase/MTc0MDg/)


“.... além deste tempo que mede tudo, há um outro "tempo", sobre o qual muito pouco sabemos. Terá o imenso universo que nos cerca também seu tempo?...”( Antônio Álvares da Silva, O TEMPO E A VIDA, http://www.trt3.jus.br/download/artigos/pdf/238_tempo_vida.pdf)


       Como se vê, “Para a Logosofia, tempo é vida. É preciso ganhar o tempo como se ganha o pão de cada dia; e tempo se ganha quando se vive conscientemente – o que significa manter uma permanente atenção em tudo o que se faz.” (http://www.logosofia.org.br/noticias/o-valor-do-tempo-para-a-logosofia-tempo-e-vida/30.aspx)

“O tempo é como o concreto que vai girando no misturador. O concreto é somente um potencial, até que o operário abra o reservatório e o coloque numa fôrma para que ele tenha alguma utilidade. O tempo desperdiçado é como o concreto que nunca é usado, ou que é retirado mas não é colocado na forma. Só conseguimos crescer se aprendermos a moldar nossas vidas dentro dos limites do tempo, porque é somente usando adequadamente o tempo que conseguimos ter controle sobre nós mesmos.( Daniel C. Luz, A vida é o resultado de como você utiliza seu tempo, http://cyberdiet.terra.com.br/a-vida-e-o-resultado-de-como-voce-utiliza-seu-tempo-7-1-6-8.html)

“Substituindo um andamento cíclico, o surgimento de um tempo tridimensional, marcado pela distinção entre passado, presente e futuro, é um dos elementos qualificadores da vida moderna. O presente identifica o momento no qual, amparada pela experiência do passado e lançando mão da razão, a humanidade projetaria o seu futuro. A própria relevância do tempo "depende[ria] da capacidade de interrelacionar o passado e o futuro no presente" (4 apud 5). A emergência da possibilidade de uma visão histórica do (e no) mundo estaria, portanto, vinculada ao surgimento dessa forma de percepção temporal.”( Maria Helena Oliva-Augusto, é docente e pesquisadora do Departamento de Sociologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP) TEMPO, INDIVÍDUO E VIDA SOCIAL, http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252002000200025&script=sci_arttext)


O mistério do tempo sempre incomodou. Fernando Pessoa em ‘Tabacaria’, diz-nos: “Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens. Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.”

Retomo a pergunta. Cadê os meus dois terços da vida? E agora? O que fiz eu?
Assis Rondônia, Limeira, XIII.VII.MMXII.

















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